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Meu pai foi muito ausente na minha vida. Tenho poucas recordações de ir visitar os meus parentes paternos, mas quando isso acontecia eram sempre bons momentos, principalmente pela ligação com a música. Soube que a infância deles foi muito pobre e difícil, além do meu avô ser extremamente violento e hostil. 

 

Após entrar no movimento estudantil aos 14 anos, recebi uma formação intensa de feministas muito importantes e ativas. Isso me fez pensar o papel das mulheres a partir de um recorte global, mas também na maneira de pensar a estrutura da minha própria família. Aí eu encontrei a minha avó. 

 

Mãe de 4 filhos, cabeleireira por formação, dona de casa por obrigação e mãe de santo por paixão, Dona Zila, para os íntimos, carrega o fardo e personifica várias camadas da população brasileira. De origem indígena, filha de dois pais de santo, nasceu e cresceu no morro do bumba, no cubango, em Niterói, onde vive até hoje. Se sustenta com o dinheiro do salário que ganha como copeira na prefeitura de Niterói e mora com três dos quatro filhos na própria casa, que também é um terreiro de umbanda. 

 

Há quatro anos venho documentando a vida da minha avó e a relação que ela estabelece com a religião, a família, o trabalho e o mundo. Ao mesmo tempo que é um registro histórico de uma mulher que, em parte, é uma personificação da classe trabalhadora brasileira feminina, também é um resgate ao meu passado e às minhas origens.

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